JUSTIÇA

Suellen Escariz
3 min readMay 28, 2021

É um clássico ouvir o povo clamar por justiça, mas de fato, quem a pratica? A justiça desafia o ego e a vaidade humana, e muitos sucumbem com o poder nas mãos. Muitos dos que exigem a justiça, sequer compreendem seu significado, e entendem os que falham no objetivo de buscá-la, pois, se estivessem em tal lugar, assim o fariam.

Refletir sobre justiça, requer um pensamento amplo e uma análise honesta. É possível considerar justo aquele que beneficia alguém fora da lei? É possível agir com justiça quando há parcialidade?

As regras de julgamento, as regras da justiça como instituição encaminham o sistema jurídico para uma proteção contra as falhas humanas, porém, ao mesmo tempo, acabam por abrir espaços que permitem uma fuga à perfeita justiça.

A partir deste pressuposto, é possível questionar: há verdadeira justiça no mundo? Inevitável fazer alusões a pensamentos antigos em que o sábio fazia referência à falta de justiça na terra, à imparcialidade do ser humano, à necessidade de poder e usurpação do mesmo. O poder que emana do povo, normalmente, encontra entraves. O poder que emana da justiça, muitas vezes se perde pelo caminho, e falseia o princípio, encaixa artigos onde sequer cabem, produz novidades que afastam liberdades, e orienta toda a sociedade a desconfiar de sua verdade.

O povo que clama por justiça muitas vezes não a pratica, assim, prolonga o ciclo de desobediência e consequência, até que alguém abra os olhos e veja, e também ouça, e lembre a todos o que realmente precisa ser feito, e lembre a todos o peso da verdadeira Justiça.

A história é cíclica, e é possível arriscar dizer que a justiça não é cega, tanto vê, quanto se cala, tanto sabe, e muitas vezes ignora. A justiça instituição humana é bastante diferente da Justiça. A Justiça se cumpre, não busca atalhos, paga o preço que é preciso, é verdade e direito em si mesma, produz a pena e também a liberdade, cumpre a própria lei que a criou, tem representantes com caráter.

A justiça, instituição humana, produz atalhos nos próprios caminhos e muitas vezes confunde os mais estudiosos, em muitos casos, molda-se de acordo com interesses que não são sua finalidade, permite-se ser usada por quem não tem caráter, por quem a manipula por objetivos escusos.

Comparar a justiça corrompida com uma Justiça pura é comparar opostos, é como esperar neve no verão e calor no inverno. Buscar compreender como o ser humano deturpa figuras e produz uma versão corrompida delas, vai muito além de uma única instituição.

Este pensamento pode produzir horas e horas de reflexão e filosofia, pode evidenciar que existem questões que estão além da compreensão humana e, talvez, somente uma visão ampliada alcançará tais verdades.

O ponto principal que se deve ter em mente é que, por mais que tentem ferir a imagem e a percepção da justiça, por mais que tudo pareça tão injusto e que prosperidade dos ímpios seja grande, a verdade é que existe sim Justiça não corrompida e, esta nunca falha. De onde conclui-se que ainda que o cenário seja de falta de esperança, é possível confiar em uma Justiça.

O caminho para justiça está em fazer o que é certo, e afinal, existem questões que são absolutas, nem toda a tentativa de relativizar o que não se pode relativizar será suficiente para neutralizar verdades. E a justiça é uma dessas verdades.

Para seguir o que é verdade, independentemente de ânimo, vontade ou vaidade, seguir o que é justo, ainda que os interesses pessoais sejam outros, declarar os fatos como são, e aceitar as consequências é a solução, não somente para a justiça-instituição, porém, principalmente, para o ser humano que pretenda ser justo.

E somente haverá uma sociedade justa quando a maioria dos indivíduos decidir por buscar a justiça, e não uma justiça que seja decisão judicial, mas uma justiça que seja produzida pelas próprias escolhas e atitudes como pessoa. Somente quando uma população, de maneira geral, conscientiza-se acerca da importância de fazer, antes de exigir, é que a mudança se torna realidade. A verdadeira justiça nasce de pequenas partículas, pequenos atos individuais que se multiplicam, nasce da decisão de um povo unido em prol de fazer o que é certo.

Buscar e clamar por justiça está muito além de um discurso vazio e hipócrita, está em saber se posicionar e agir conforme o que é verdadeiramente justo. Está em buscar a lei e o direito como devem ser, está em ser quem espera que os outros sejam, está em preservar a honestidade e a verdade acima de interesses. A Justiça existe e cada ser humano está a um passo de alcança-la, cada ser humano está à distância de uma escolha de se fazer justo.

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